Este blog tem o intuito de revelar toda a verdade do caso em que Chong Jin Jeon foi preso sob falsas acusações de fraude cometidos pela ASIA Motors.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A RUÍNA DO JOVEM EMPRESÁRIO COREANO E A HYUNDAI

Reportagem publicada no jornal sul-coreano 'Marl'

QUEM É JEON CHONG-JIN?
Repórter Seo Jeong-Hwan

Acredito que não haverá quem negue que até o início da década de 1990, não, na verdade, até hoje, o herói máximo do futebol sul-americano seja o jogador Carlos Valderrama da Colômbia, “el pibe”. No entanto, os jogadores que, juntamente com o Valderrama, formaram a linha de ataque mais poderosa do mundo, levando a seleção colombiana ao topo do mundo, talvez mais do que isso, à maior equipe de todos os tempos, são Faustino Asprilla e Freddy Rincón.
Com o passar dos anos, esses heróis também passaram pelas mazelas da vida. Freddy Rincón, que vive no Brasil, foi preso pela Polícia Federal no ano passado, suspeito de envolvimento em tráfico de grande porte de drogas por causa de outro sócio de sua empresa pesqueira Nautipesca.

Porém, este incidente não representou para Freedy Rincón somente um prejuízo. Durante sua prisão, ele encontrou seu “guru”. Freddy Rincón, que hoje ainda exibe um corpo atlético e atua como modelo, declara publicamente que “ele é o meu herói e o meu guia pela vida”. Freddy Rincón é um astro proeminente do futebol, a ponto de um jogador da seleção da Ucrânia, Diogo Rincón, ter se autonomeado assim, tamanha admiração pelo jogador colombiano.

O herói dos heróis do futebol sul-americano

Mas quem é essa figura que Freddy Rincón venera como herói?
É Chong-jin Jeon, um coreano radicado no Brasil. Quando Rincón encontrou Jeon pela primeira vez, ele havia sido preso pela Polícia Federal brasileira para ser extraditado à Coréia, segundo o Tratado de Extradição de Criminosos firmado entre a Coréia e o Brasil. Por que então ele estava lá?
Essa história remonta a uns 30 anos atrás. Jeon, que nasceu em Anseong, província de Chung-Nam, era um estudante do ginásio, na Escola Gyeong-Hee, em Seul, em 1975, quando sua família decidiu imigrar para o Brasil. E ele veio junto aos seus pais. Jeon, que viera parar em terras brasileiras sem entender nada, começou a trilhar uma vida difícil.



CHONG JIN, JEON

Ele tem irmãos e irmãs mais velhos, mas foi ele quem aprendeu mais rapidamente o português, mostrando uma capacidade superior de adaptação. Logo ele se tornaria o pilar de sua família. O primeiro trabalho que ele, ainda menino, assumiu para viver no Brasil foi de costura para uma fábrica de confecção de roupas. Trabalhou duro a ponto de se gabar, até hoje, que “sou capaz de passar qualquer overloque”, mas com isso era difícil sustentar a família. Então, juntamente com a irmã mais velha, passou a vender roupas de porta em porta, carregando uma bolsa pesada. Ao ver dois adolescentes orientais carregando bolsas de roupas, todos logo fechavam as portas de suas casas.
Ninguém o ensinara, mas ele desenvolveu uma tática de marketing de venda que consistia em convencer as pessoas da seguinte forma: “Experimente. Voltarei em uma semana. Se não tiver gostado, não precisa pagar, darei a roupa de graça”. A estratégia foi o que fez as portas, que até então estavam bem fechadas, se abrirem.
Aos 21 anos, casa-se com a filha do proprietário da loja de roupas para a qual sua pequena confecção vendia. Nessa época, ele começou a demonstrar com toda força seu potencial inato para vendas, pois, com seus parcos vinte anos, tornara-se proprietário da fábrica de roupas em que era funcionário, tornando-se um empresário promissor.

Em pouco tempo, tinha cerca de 10 lojas de roupas em São Paulo. Como vários outros coreanos bem-sucedidos no Brasil, ele também, depois que seus negócios estavam consolidados, desejou trabalhar em algo relacionado ao seu país de origem. No início da década de 1990, conheceu alguns executivos da Asia Motors Corporation (Coréia; AMC), e fundou a Asia Motors do Brasil (AMB), uma importadora de automóveis. Passou a vender no mercado brasileiro as vans Towner e Topic, que já não obtinham grandes vendas na Coréia. Novamente, mostrou astúcia, oferecendo uma Towner à filha do então presidente Fernando Henrique Cardoso, obtendo um ótimo resultado propagandístico.
Sua empresa AMB apresentou um crescimento vertiginoso, atingindo o primeiro lugar em vendas dentre as importadoras de automóveis no Brasil e figurando entre as 50 maiores empresas do Brasil em termos de volume de negócios. Chegou a vender 2.700 unidades em um único mês.

A maior crise de sua vida começou a abatê-lo em 1995, quando o governo brasileiro elevou o imposto sobre importação de automóveis, taxando-os em 70%. Em 1997, a Kia Motors (Coréia), proprietária da Asia Motors Corporation (Coréia; AMC), ficou inadimplente e não conseguia mais obter fornecimento adequado para os automóveis. Em novembro de 1998, após participar de uma reunião do Comitê Gestor da AMB na matriz da Asia Motors Corporation (Coréia; AMC), localizada em Yeoui-do, Seul, ao sair da sala de reuniões, foi preso pela polícia por um crime que mal compreendia. Segundo a lei, ele receberia punição severa por crimes econômicos específicos.
Jeon, que mal conseguira completar os estudos ginasiais na Coréia, gozava de um status social bastante alto no Brasil. Na sua ingenuidade, desafiou o promotor que viera prendê-lo, agarrando-o pelo colarinho, por um crime absurdo. Sua ignorância e falta de conhecimento sobre a Coréia era imensurável.
Em primeira instância, foi condenado a sete anos de prisão e, por meio de um acordo com a Hyundai Motors, foi solto em junho de 2000 sob fiança. Ele, que provara do “gosto amargo da pátria”, decretou rendição incondicional à Hyundai, dizendo que “farei tudo que a Hyundai quiser se me levarem de volta ao Brasil”. Mas até o fim, a Hyundai não lhe deu confiança e não assinou a revogação da proibição de deixar o país.
Numa noite de julho de 2001, ele escondeu-se em um contêiner no cais do porto de Incheon. O navio que levara o contêiner atravessou o Mar Amarelo e levou-o às terras chinesas. Perambulou pela China como se quisesse se livrar de todas as memórias ruins da Coréia e, em setembro de 2001, depois de passar uma temporada na Espanha, voltou ao Brasil, após assistir, pelos meios de comunicação, à tragédia de 11 de setembro. Depois isso, iniciou novas atividades empresariais no Brasil, esforçando-se e tentando reerguer suas bases que estavam totalmente arruinadas.



Prédio da PF em São Paulo


“Chega de vítimas de Chaebol (Plutocracia)”

Novamente, seu empreendimento, a construção de um campo de golfe, foi muito bem-sucedido. A essa altura, a Hyundai Motors, que se tornara proprietária da Kia Motors, inicia uma tentativa de acordo com Jeon e seu sócio Washington Lopez (presidente da AMB), por meio do advogado norte-americano Michael Goldenberg, especialista em transações internacionais, e Park Seong-do, diretor da Divisão de Negócios Internacionais da Hyundai.
A pauta do acordo seria: “Iremos resolver a questão das multas no Brasil e o aumento de capital”. Jeon, que ansiava ardentemente pelo reconhecimento de sua inocência e a recuperação de sua honra perdida, negou-se terminantemente. Mas isso era o início de uma nova tormenta.

Em outubro de 2002, o governo coreano solicitou ao governo brasileiro a extradição de Jeon, de acordo com o Tratado de Extradição assinado entre os dois países, e quatro anos mais tarde, em julho de 2006, Jeon foi preso pela Polícia Federal brasileira. Durante seu período de prisão, encontrou amigos como Rincón, mas também perdeu a mãe. Hoje, preso no terceiro andar da sede da Polícia Federal em São Paulo, espera a visita de amigos ou da família, para quem é permitida uma visita semanal. Sempre que encontra alguém, ele enfatiza: “Eu sei o quão poderoso é o adversário com quem estou brigando. Mas chega de vítimas injustiçadas de Chaebol, isso não pode mais se repetir”.


Freddy Rincón: “ele é o meu herói e o meu guia pela vida”

Publicado em: 26/11/2007 - 15:25:54
Fonte: Fala (marl)
Repórter Seo Jeong-Hwan


A RUÍNA DO JOVEM EMPRESÁRIO E A HYUNDAI
O QUE HYUNDAI PERDEU NO BRASIL

Repórter Seo Jeong-Hwan

Uma carta que chegou em agosto passado ao Fala (marl). Por pouco, não ficou largada numa das gavetas de um jornalista, assim como várias outras cartas de “súplica” que chegam à redação. O conteúdo da carta, que começava com “À redação do Fala (marl)”, versava sobre Jeon Chong-jin, que há 10 anos teve seu nome citado diversas vezes nos meios de comunicação pelo caso conhecido como “fraude de um coreano-brasileiro”.
Na carta, seus familiares apelavam por sua inocência. Esse tipo de correspondência, muitas vezes, passa ao largo daquilo que a mídia normalmente considera como objeto de retratação de “fatos ou alegações de valor amplamente conhecidos pela sociedade”.
O motivo pelo qual o Fala passou a dar atenção ao caso foram os fatos de a Arbitragem Coreana Comercial ter decidido atender à petição de Lee In-ae, proprietária da empresa Jeong-Sin Indústrias, que viu sua empresa falir e todos os bens evaporarem depois de assinar um contrato de fornecimento com a Hyundai; e de o julgamento sobre a verba não declarada para campanha presidencial de Jeong Mong-gu, presidente da Hyundai Motors e da Kia Motors, quando este era candidato, estar chegando ao seu auge.
Ao final, a carta acabou por mostrar como a Hyundai, uma empresa, que busca uma administração global de todo o seu grupo, está desempenhando um papel paupérrimo no mercado sul-americano, e que há 10 anos, poderia, ao contrário, ter se tornado o personagem principal nesse palco de proporções gigantescas. No Brasil, enquanto as indústrias e as cidades crescem sem parar e vivem, atualmente tempos gloriosos no mercado automobilístico, a ponto de se dizer que “não se vende mais porque não se tem”, o transporte coletivo não é ainda tão bem servido.

A isso, soma-se também a estabilidade econômica tem se mantido, após o governo Lula, e isso ajudou a consolidar o mercado de venda a longo prazo. A venda de automóveis no Brasil em 2006 chegou a mais de dois milhões de unidades (2.069.500 exatamente), mas, mesmo agora, as vendas mensais seguem batendo recordes históricos, e estima-se que atinja na casa dos 2 milhões e 100 mil unidades até o fim do ano (dados fornecidos pelo Relatório Analítico do Mercado Automobilístico Brasileiro da Kotra de maio de 2007). Entretanto, pelo que se pode confirmar junto ao Departamento de Imprensa da Hyundai, a fatia de mercado que a empresa ocupa não chega a 3% no mercado brasileiro.

Uma empresa globalizada que não atinge 3% de um mercado de ouro?

O motivo pelo qual a Hyundai patinha no mais novo mercado consumidor automobilístico reside na taxação astronômica de 35% sobre os automóveis. O modelo da Hyundai que goza de maior prestígio no Brasil é a Tucson, que é vendido por nada menos que 40 mil dólares em função dos impostos altos. Isso é quase duas vezes o preço pelo qual é vendido na Coréia.
No entanto, outras montadoras estrangeiras driblaram esse empecilho e dominaram o mercado brasileiro graças à instalação de fábricas locais. Somente no ano passado foram produzidos 2.606.300 carros no Brasil, dos quais 1.927.700 unidades foram consumidas no mercado interno. Todas as montadoras instaladas no Brasil são estrangeiras, uma vez que não há nenhuma montadora nacional brasileira instalada. Mesmo no caso de carros importados, o governo brasileiro isenta o importador do imposto assustador, se este for fabricante, de modo que o mercado de carros importados no Brasil, que é de 141.800 unidades, é palco exclusivo de montadoras estrangeiras com fábricas locais. A posição do governo brasileiro quanto ao automóvel é, resumidamente, “se quiser vender no Brasil, fabrique no Brasil”.



Concessionária da Hyundai em São Paulo

Hyundai também possui uma fábrica local numa cidade chamada Anápolis, no estado de Goiás, para produção de Libero (com nome local de HR), um caminhão de pequeno porte com a própria marca. A fábrica, inaugurada em abril passado, tem a capacidade de produzir 50 mil unidades do Libero ao ano, e planos de iniciar a produção dos modelos Tucson, Santa Fé e Elantra até o início do próximo ano. A fábrica da Hyundai em Goiás é uma montadora de semimanufaturados, e o gestor do empreendimento é uma distribuidora local de automóveis chamada Caoa. Em outras palavras, a Caoa-Hyundai, na verdade, é uma fábrica de investimento 100% local, no caso da Caoa, em que a Hyundai fornece a marca e as peças, e os lucros provindos das vendas ficam com a Caoa. A Hyundai assiste de camarote esse mercado de ouro, em que tudo que se fabrica se vende, contentando-se apenas em fornecer peças.
Lamentavelmente, a Hyundai teve a chance de se lançar nesse mercado de ouro há 10 anos. Na época em que a Hyundai comprou a Kia Motors, a Kia estava cadastrada no chamado “regime automotivo” de acordo com as leis brasileiras. A Medida Provisória para Investimentos no Nordeste do estado da Bahia permitia que a Kia Motors construísse uma montadora naquele estado com privilégios tributários, financiamentos, subsídios federais etc., sendo praticamente uma lei especial criada para atender a Kia.
Na época em que Hyundai comprou a Kia Motors, essa havia já se comprometido em construir uma fábrica local por meio de sua subsidiária, a AMB, da qual possuía 51% das cotas. Foi realizada até a cerimônia de lançamento da pedra fundamental com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso, e o trabalho de terraplenagem já estava concluído. Para a Hyundai, como nova proprietária da AMB, bastaria dar seguimento às obrigações e aos direitos da AMB, e ter construído a fábrica. O governo do estado da Bahia havia oferecido à Kia Motors privilégios que nenhuma outra empresa, mesmo credenciada no regime automotivo, havia recebido em outros estados brasileiros, tais como subsídios para os trabalhos de terraplenagem, construção de um porto, além de financiamento de longo prazo a juros baixos para o custeio da construção, tudo em nome da geração de empregos e desenvolvimento regional do estado.

Fábrica entregue de bandeja à Ford


Logo após a compra da Kia pela Hyundai, em 11 de novembro de 98, o governador da Bahia, Sérgio Borges chegou a enviar uma carta a Washington Lopez, CEO da AMB, dizendo que: “Embora o proprietário da Kia Motors houvesse mudado, o estado da Bahia continuaria com a sua intenção de oferecer todo o apoio necessário para a construção da fábrica”. Mas Hyundai não foi ágil na tomada de decisões. Para a Hyundai, cujos interesses sempre giraram em manter a liderança nos mercados dos EUA, China e Leste Asiático, além do mercado europeu, ao que parece, as perspectivas do mercado brasileiro não lhes pareceram tão certas.



Cerimônia de lançamento da pedra fundamental em Agosto de 2007 com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso

O Departamento de Planejamento da Hyundai Motors anunciou, somente em 27 de agosto de 1999, que: “Após análise detalhada do projeto de construção no nordeste brasileiro com a capacidade de produção de 100 mil carros, chegamos à conclusão que seria desejável retomar o empreendimento da Kia Motors”. Mas já era tarde. Nessa data, o terreno de 2 milhões e meio de metros quadrados, bem como o direito de uso exclusivo do porto de escoamento da produção, os quais deveriam ser da AMB foram oferecidos à Ford.
À AMB sobrou, como penalidade, a apreensão dos privilégios fiscais sobre carros importados aos quais fazia jus em função da promessa de que construiria a fábrica local. O problema é que essa penalidade, que era de 200 milhões de dólares, impediu que a Kia e a Hyundai, por 10 anos (hoje o montante cresceu para 500 milhões de dólares), avançasse em seus projetos para o Brasil.
O presidente da Caoa, Sr. Carlos Alberto, que construiu a fábrica de Goiás, declarou, por ocasião da inauguração da fábrica em 22 de abril último, que “obtivemos a decisão, pela justiça federal, de que a multa de 500 milhões de dólares da Kia Motors não tem relação com esta fábrica da Caoa-Hyundai”. Isso significa que já foi feita uma análise jurídica sobre uma possível fábrica com a marca Hyundai, proprietária da Kia Motors.

No entanto, além da fábrica da Caoa-Hyundai de Goiás, é necessário garantir uma segurança mais sólida em relação a um possível empreendimento de investimento direto da Hyundai Motors no Brasil. Até hoje, no Brasil, a empresa AMB ainda existe, pelo menos nos papéis, somente para efeito de cobrança da multa. E, entre a Kia Motors e os sócios brasileiros da AMB incluindo Washington Lopez está em andamento uma querela judicial em torno da multa.

De qualquer modo, o governo federal brasileiro e a justiça brasileira estão decididos a executar a todo custo essa multa. Quando Han Deok-su, Secretário de Negociação Comercial, encontrou-se com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio brasileiro em dezembro de 1998, e quando o ex-presidente Kim Dae-jung encontrou-se com o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 18 de janeiro de 2001, em Seul, em ambas as ocasiões foi solicitado o perdão da multa sobre AMB. Mas em ambas as ocasiões, o pedido foi prontamente negado. Para o governo brasileiro, não teria havido problema algum se a Kia ou a Hyundai tivesse construído a fábrica em seu devido tempo ou, ao menos, dado garantias de que construiria a fábrica (pagamento do montante necessário para início das obras junto ao Banco Central ou aumento de capital social da AMB, etc.). Imediatamente após ao encontro de cúpula Brasil-Coréia, os meios de comunicação locais criticaram a postura coreana de “querer resolver de forma difícil um problema simples, que é dívida fiscal”. Por isso, a única coisa que resta é dividir o passivo entre a Kia Motors e os sócios brasileiros na execução de tal débito.

Em agosto de 2004, a ICC (Câmara Internacional de Comércio) apresentou a decisão de que os sócios brasileiros da AMB incorreram em estelionato, apropriação indevida de lucros e manipulação administrativa abusiva em relação à Kia Motors (o projeto da Hyundai de construir uma montadora por meio da Caoa é posterior a esse fato). No entanto, a justiça federal brasileira ainda está deliberando se aceita ou não essa decisão do ICC.Caso a justiça brasileira ratifique a decisão da ICC, a multa devida pela AMB terá de ser paga pelos sócios brasileiros da AMB, Washington Lopez, Jeon Chong-jin e outros. Caso contrário, a Kia Motors e os sócios brasileiros deverão arcar com a penalidade de acordo com suas cotas sociais (Kia: Sócios brasileiros = 51 : 49). Dos cinco juízes que estão analisando o caso na justiça federal brasileira, dois estão a favor e dois, contra a decisão da ICC.

Vitória no ICC, mas a justiça brasileira permanece “em cima do muro”


No entanto, o caso voltou à estaca zero quando o quinto juiz desistiu de proferir a sua posição sobre o caso. O Departamento de Imprensa da Hyundai Motors diz que “A justiça brasileira jamais deixou de ratificar uma decisão do ICC. Nós encaramos a questão não como um procedimento de julgamento, mas de ratificação”, mas parece que a realidade é um pouco diferente disso.Enquanto essa questão não é resolvida, a Hyundai, proprietária da Kia Motors, não tem segurança nenhuma em ampliar seus negócios no Brasil com seu próprio capital, pois dependendo da decisão da justiça brasileira, a empresa pode ser executada em uma multa que chega a 200 milhões de dólares. Esse é o motivo pelo qual a Hyundai não pode se lançar precipitadamente em construir uma montadora local.



Atual fábrica da Ford em Camaçari, Bahia

Por outro lado, a Ford, que recebeu o terreno na Bahia que era para ser da Kia Motors, produziu, somente no ano passado 250 mil carros, e está ampliando as instalações fabris no momento. Já gerou 8.500 empregos e agregou diversas fábricas de peças, elevando a sua imagem não somente na região da Bahia, mas em todo o Brasil. Vende carros não somente dentro do Brasil, mas também exporta para os países do Mercosul com incentivos fiscais.
A fábrica da Ford na Bahia tem projeções de lograr o maior lucro comparada a qualquer outra fábrica da marca instalada em todo o mundo.
Ao discutir o futuro da indústria automobilística, há uma projeção sobre a qual nenhuma empresa e nenhum especialista discorda: “Somente as montadoras que se solidificarem entre as quatro maiores nos próximos 10 anos vão sobreviver”.Analisando o mercado automobilístico em âmbito mundial, a produção adequada seria de 4 milhões de unidades anuais, mas são produzidos atualmente cerca de 20 milhões de unidades em todo o mundo. Diante desse quadro de hiperprodução, os lucros das montadoras correrão em curva descendente, sobrando, ao final, apenas as quatro maiores montadoras mundiais. Este é o resumo das projeções, não tão recente, mas que já vem sendo discutida há mais de 10 anos.


A GM comprou a montadora sueca Saab, a alemã Opel, a italiana Fiat e a coreana Daewoo. A Ford comprou a Volvo, Land Rover e a Mazda; a Daimler Benz comprou a Chrysler. Assim, toda a indústria automobilística mundial está em processo acelerado de fusões e aquisições. Diante da opção da Hyundai-Kia, a montadora representativa da Coréia, de se tornar uma empresa global com administração globalizada, aumentar a rede de vendas internacionais e o número de fábricas no mundo é mais um lance imprescindível para sua própria sobrevivência. Em maio de 2007, quando foram vendidos em todo o Brasil cerca de 200 mil unidades, a Hyundai teve de se contentar com a venda de 500 unidades, esperando apenas a decisão judicial brasileira, situação que causa aflição.

Publicado em: 26/11/2007 - 15:25:54
Fonte: Fala (marl)
Repórter Seo Jeong-Hwan



JEON CHONG-JIN FOI “A FIGURA-FORTE NOS TEMPOS DE FMI”
Os precedentes do caso de “estelionato de um coreano-brasileiro”

Repórter Seo Jeong-Hwan

Há quase 10 anos, em 1999, um empresário coreano-brasileiro passou a freqüentar ruidosamente os cadernos de economia dos principais jornais diários desde o início do ano. Ele teria dado um calote de 180 milhões de dólares na Asia Motors Corporation (Coréia; AMC), de quem importou automóveis, e teria se apropriado de 200 milhões de dólares que serviriam para aumentar o capital social da AMB (Asia Motors do Brasil), empresa brasileira estabelecida com investimento conjunto da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) e sócios no Brasil, o que seria o maior golpe de estelionato de todos os tempos. Assim ficou famoso Jeon Chong-jin. Até se tornar conhecido no mundo pela “fraude do coreano-brasileiro”, ele era chamado, no Brasil, apenas com 34 anos idade, de “figura eminente”. Após imigrar aos 15 anos para o Brasil, trabalhou como biscate e operário, adquirindo experiência no comércio. Mais tarde, acumulou amplo espectro de relações pessoais com brasileiros de altos postos e políticos e conquistou uma sólida reputação e status na sociedade brasileira.

Em 7 de dezembro daquele ano (1999), a Corte coreana julgou-o inocente, em relação ao pagamento dos valores da importação de automóveis, e culpado, na parte tocante à fraude sobre aumento de capital da empresa. Sentenciou-o a sete anos de prisão. Mas em julho de 2000, enquanto corria na justiça a sua apelação contra a sentença, Jeon, que estava em liberdade condicional desapareceu da Coréia em direção ao Brasil, sacudindo novamente os meios de comunicação.
Seu nome reapareceu na mídia a partir de julho do ano passado. Com a entrada em vigor do Tratado de Extradição firmado entre a Coréia e o Brasil, a Polícia Federal brasileira prendeu-o, e, passado um longo período de julgamento, a justiça federal brasileira finalmente decidiu, no dia 23 de outubro último (2007), pela extradição de Jeon à Coréia.
Parece que sua extradição não acontecerá de imediato, uma vez que seu julgamento no Brasil ainda está em curso, porém, isso deverá acontecer até o primeiro semestre do próximo ano, a partir do qual deverá iniciar uma vida de presidiário por 10 anos. A Justiça Superior de Seul sentenciou-o a 10 anos de prisão, tendo reconhecido a sua culpa também no caso dos débitos da exportação dos automóveis da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), ao executar um julgamento, em segunda instância, numa audiência ocorrida em 28 de maio de 2002, à sua revelia.



Chong Jin, Jeon

Na Coréia, não há mais ninguém que se lembre desse caso. Mas nomes como Jeon, AMB, Hyundai-Kia ainda estão bem vivos e ainda inconclusos na justiça brasileira.
A partir de agora, tentaremos encontrar as origens desse julgamento relacionado à Kia Motors, que está em andamento na justiça brasileira, e reconstituir os bastidores capciosos que fizeram nascer “o caso do estelionato do coreano-brasileiro”.
O enredo dessa história tem o seguinte conteúdo:A relação entre a Asia Motors Corporation (AMC) e Jeon começa em 1992. Em outubro daquele ano, a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) exportou 824 unidades dos modelos Towner e Topic ao Brasil, através da AMB, uma importadora estabelecida por Jeon e outros.

A Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) e Jeon, para driblar a dificuldade, decidem por se credenciarem no Regime Automotivo criado pelo governo brasileiro. Esse Regime considerava abater até 50% dos impostos de importação de carros acabados, desde que a empresa efetuasse investimentos produtivos no país. Além dos benefícios fiscais, eram oferecidos financiamento para a construção da fábrica, subsídios, empréstimos a juros baixos na utilização de determinados portos, ou seja, os privilégios do Regime Automotivo eram extremamente atraentes. Por isso, a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), juntamente com sócios no Brasil – Jeon, Washington Lopez e um outro sócio chamado Roberto –, resolve alterar o contrato social da AMB mediante novos investimentos conjuntos em capital social, transformando a AMB, então importadora de automóveis, em uma empresa com características bem diferentes. O objetivo social da nova AMB não era mais simplesmente importar e comercializar carros da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC). A empresa passou a ser sujeito do projeto de construção de uma fábrica no Brasil e, após a sua construção, gestora do empreendimento. O capital social total, cerca de 40 milhões de dólares, ficou dividido entre os sócios da seguinte maneira: a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) com 51%, os sócios no Brasil, incluindo Jeon com 49%. Assim, na prática, a nova AMB tornou-se propriedade da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC). Em 24 de junho de 1997, foi assinado um Acordo de joint venture contendo justamente esses detalhes. Do lado da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), assinou o então CEO Kim Young-seok.


Joint Venture realizada em Junho de 1997 com a presença de 4 executivos coreanos mais os sócios do Brasil

É preciso ter em mente que, a partir desse momento, Jeon era simplesmente um quotista da nova AMB, ficando à parte das responsabilidades administrativas da empresa. Nas palavras de Washington Lopez, que foi nomeado CEO da nova AMB, “Jeon tinha apenas o cargo de conselheiro, mas não assinava por nenhuma das decisões da empresa. Todas as decisões da empresa foram tomadas por mim e outros enviados pela Asia Motors, incluindo o vice-CEO Seo Sang-tae, Choi Bong-ho, Na Kwang-nam e Cho Wang-jae, que compunham o Conselho Administrativo” Todos que foram mandados da Coréia pela própria Asia Motors Corporation (Coréia;AMC).

O sonho da Asia Motors arruinado

Porém, ocorre um problema decisivo. Passados apenas 20 dias da assinatura do joint venture, em 15 de julho de 1997, a Kia Motors, empresa-mãe da Asia Motors, ficou inadimplente e entrou em concordata. Em 8 de agosto de 1997, aconteceu, como previsto, uma pomposa cerimônia de lançamento da pedra fundamental da fábrica da Asia Motors no Brasil em Camaçari, Bahia, com a participação do então presidente Fernando Henrique Cardoso. E, ainda que tenha sido promulgada uma Medida Provisória de Investimento em Nordeste, um instrumento criado para favorecer a Asia Motors, esta não estava em condições de fazer qualquer investimento. O governo brasileiro então passa a desconfiar da capacidade e das intenções da AMB de construir a fábrica. Se a AMB desistisse dessa fábrica, teria de devolver todos os benefícios fiscais recebidos até então, além da multa. Este é, em verdade, os 200 milhões de dólares correspondentes à multa que ainda é um problema no Brasil até hoje para os novos donos da Asia Motors (considerando os juros e as multas, este valor está em 500 milhões de dólares hoje).
Com um acontecimento de tamanha gravidade, ficam patentes os problemas para o aumento de capital da nova AMB. Em fins de 97, o governo brasileiro pressionou a AMB dizendo que iria multar a empresa a partir de março do ano seguinte. Jorge Khoury (atualmente deputado estadual pela Bahia), chefe de gabinete de Paulo Souto, o então governador da Bahia, disse que: “Considerando o porte do empreendimento da construção da fábrica de Camaçari, a postura da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) era muito tímida. O governo do estado, que havia se empenhado para viabilizar o projeto, estava enfrentando críticas fortes da opinião pública e da oposição, e por isso exigiu que a empresa aumentasse o capital para os 400 milhões de dólares correspondentes ao montante necessário à construção da fábrica”.
Para a AMB, não havia outra escolha senão fazer o aumento de capital, para fugir da multa astronômica e também para postergar a construção da fábrica. Porém, tanto a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), quanto os sócios no Brasil não tinham tamanha soma naquele momento.

No caso da concordatária Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), estava sob administração judicial, e não poderia fazer qualquer investimento mesmo que tivesse, por acaso, tal soma. Mas a legislação brasileira deixava uma brecha, que permitia um aumento de capital social no seu Contrato Social somente com a promessa de que integralizaria o capital em 24 anos, sem investimento imediato em dinheiro. Sobre a decisão pelo aumento de capital, até a justiça coreana havia dado a autorização. “Os sócios brasileiros devem integralizar suas quotas no primeiro semestre de 98 com seu próprio patrimônio, sendo que o capital a ser integralizado seria em títulos ou créditos. Os sócios brasileiros incluem, como suas quotas, os títulos de venda a prazo da Asia Motors para a AMB, porém, pagarão este valor à medida que a fábrica girasse, com carência de dois anos e pagamento em oito anos.

A Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) faria vista grossa a esse artifício [essa parte é uma parte essencial no julgamento de Jeon, mas a corte não reconheceu essa alegação de Jeon de que a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) sabia e era conivente com isso] e, em troca, comprometeu-se a integralizar o capital dentro de dois anos, com a ressalva de que poderia desistir da participação no aumento de capital.” Esse conteúdo foi acordado entre as partes em 6 de março daquele ano. Nessa época, o responsável pelos contatos entre os diretores da Asia Motors e os sócios brasileiros incluindo Lopez, é o diretor Yu, como aparece nos fac-símiles da época.

Apesar desses esforços, a Kia Motors, que estava sob administração judicial, foi ao final vendida para a Hyundai e, naquele momento confuso, o projeto da fábrica brasileira foi atirada para o alto. O governo brasileiro então multa a Kia Motors em 200 milhões de dólares.
O terreno em Camaçari, que havia sido preparado para abrigar a fábrica da Kia Motors, as instalações portuárias de uso exclusivo, além de todos os benefícios fiscais foram arrematados pela Ford de atacado, logo após ela ter fracassado no projeto de construção de uma fábrica em outro estado brasileiro. O caso do “estelionato do coreano-brasileiro” então eclodiu no pior cenário possível, no momento da pior crise do processo de desenrolar do projeto brasileiro, que já estava afundando aos poucos.
Nos julgamentos sobre crimes econômicos na Coréia, é publicamente reconhecido um princípio oriundo de uma piada que diz que “o crime de estelionato é crime de resultado”. O resultado era que, em meio à crise cambial com intervenção do FMI, a Coréia teria de pagar 200 milhões de dólares de aumento de capital, além de levar calote de 180 milhões de dólares da exportação de automóveis. Assim, a justiça coreana reconheceu o crime de estelionato de Jeon. Mas a questão é que ela não prestara atenção no processo capciosa e complexo pelo qual vinha o Projeto-B (como foi chamado o projeto da construção da fábrica no Brasil). Além disso, a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) e a Hyundai Motors, e também a sociedade coreana em geral, necessitava que Jeon fizesse o papel de estelionatário.


Asia Motors Corporation (Coréia;AMC): a responsabilidade tem de ser de fora

“A possibilidade de receber os valores da exportação de automóveis vendidos por D/A, isto é, à prazo, que em transações internacionais, significa vender fiado, é incerta”, “a empresa até foi multada pelo governo brasileiro”, “em meio a isso, a empresa ficou inadimplente”…. Numa empresa normal, o passo seguinte natural é discutir quem são os responsáveis. Porém, numa situação em que a Kia Motors/ Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) não se encontrava numa situação normal, isto é, após a concordata da empresa, os CEOs Park Jae-hyuk e Kim Kwang-sun enviaram diversos fac-símiles ao CEO da AMB Washington, tranqüilizando-o de que “a Kia Motors levará adiante, a todo custo, o projeto de construção da fábrica no Brasil em conjunto com a AMB, apesar da crise momentânea”.

Logo após a determinação da administração judicial da Kia Motors/ Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) em abril de 1998, o administrador nomeado Nyeom Jin, que mais tarde seria nomeado Ministro da Economia e Finanças, também enviou ofícios ao Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio brasileiro e ao governador da Bahia, dizendo que “pedimos desculpas pelo atraso da construção da fábrica, que se deveu às dificuldades que a Kia Motors está passando. Mas o Projeto-B será levado adiante a todo custo”.


Washington Lopez


No entanto, em 19 de outubro de 1998, a Hyundai Motors foi vencedora do leilão e tornou-se a nova proprietária da Kia Motors/ Asia Motors Corporation (Coréia;AMC). Assim que iniciaram as atividades de normalização da empresa, a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) decide por processar o ex-dirigente.

Em 1o de dezembro do mesmo ano, o vice-CEO da AMB, o qual havia sido enviado pela Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), enviou um fac-símile ao CEO da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), Kim Kwang-sun. Nele relatava que o diretor sênior Choi Bong-ho, responsável por toda a operação do Projeto-B da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), havia falado ao telefone com o vice-CEO Suh Sang-tae, em 24 de novembro de 1998, dia em que Jeon foi preso pela polícia “[processar Jeon] foi uma decisão que a diretoria da Asia Motors tomou na atual situação, por não ter outra alternativa”.


A situação a que ele se refere como inevitável aparece num diálogo que o vice-CEO Suh Sang-tae teve com o diretor sênior Jung Kwang-mo da época: “Jeon é estelionatário. Esta é a oportunidade de sepultá-lo na sociedade como autor de uma fraude internacional, e mantê-lo preso e inativo. Quanto ao empreendimento, este pode ser levado adiante em nível governamental sem grandes problemas. Pretendemos dar prosseguimento ao projeto depois que o Secretário de Negociações Internacionais Han Deok-su visitar o Brasil no início de dezembro e expor o caso em detalhes ao governo brasileiro”. Ou seja, a Asia Motors julgou que, ao rotular Jeon como estelionatário, poderia se esquivar das responsabilidades pelo atraso da construção da fábrica aos olhos do governo brasileiro e que também poderia esperar uma certa condescendência na questão da multa.

Dias antes da prisão de Jeon, vários fac-símiles são trocados entre os diretores da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) e Washington, CEO da AMB, discutindo sobre o local de realização da Assembléia Geral de Acionistas. Washington alega que “de acordo com o estatuto da AMB, a Assembléia Geral de Acionistas e a Reunião do Conselho Administrativo devem ser realizadas na matriz, no Brasil. No entanto, o CEO Kim Kwang-sun e outros diretores da Asia Motors – An Kwang-nam, Choi Bong-ho e Jeong Mun-chang – insistem, dizendo que”é impossível a diretoria toda deixar a Coréia neste momento, em função da questão da venda da Kia Motors” e que querem realizar a Assembléia em Seul, no dia 24 de novembro. Ao final, Lopez não participou da Reunião do Conselho Administrativo ocorrido na sede da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) no bairro de Yeoui-do, em Seul, naquela data às 10 horas, e somente Jeon participou dentre os sócios brasileiros. E foi preso pela polícia logo após a reunião em frente ao elevador do prédio.
O CEO da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) Kim Kwang-sun envia uma carta a Lopez logo após a prisão de Jeon, em que diz: “Jeon está sendo investigado por crimes cometidos em nível pessoal. Peço a você que continue gerindo bem a AMB e encoraje o pessoal da empresa para que superem esta situação imprevisível”. Kim Kwang-sun ainda enfatiza o lado pessoal do incidente, grifando a expressão “personal misdeeds” como a causa de sua prisão na carta escrita em inglês.

Depois que iniciou os trabalhos de fusão das duas empresas em junho de 1997, os diretores da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) trocam correspondências com a AMB somente através de Lopez e de Suh Sang-tae. Para Kim Kwang-sun, teria sido difícil explicar para Lopez que Jeon havia sido preso pela questão do aumento de capital da empresa ou pelos débitos referentes à importação dos veículos, sem que houvesse um único documento ou carta assinada por Jeon sobre procedimentos administrativos que não eram de sua alçada.

Brinde ao infortúnio de Jeon?

Por outro lado, a equipe que esteve envolvida no Projeto-B também se tornou objeto da promotoria para comprovar a suspeita de fraude de Jeon, por decisão da diretoria da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC).Na noite em que Jeon foi preso pela primeira vez na Coréia, ou seja, na manhã do mesmo dia pelo horário brasileiro, Vaulcy, funcionária da AMB que chegou ao escritório para trabalhar, recebeu um telefonema da Coréia. Era o diretor Yu, que por um tempo esteve à frente do empreendimento da AMB tendo sido enviado pela Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), juntamente com o vice-CEO Suh Sang-tae. Ele disse a Vaulcy: “Estou lhe comunicando a prisão de Jeon. No momento, estamos brindando com vinho sua prisão.
Jung, Jung’ e Kim também estão aqui. Queríamos saber para quem você trabalharia quando nós voltarmos ao Brasil”. Tal fato não foi revelado durante o julgamento de Jeon na Coréia, mas consta no depoimento de Vaulcy durante o julgamento no Brasil. As pessoas citadas por Vaulcy em seu depoimento, o diretor Yu, Jung, Jung’ e Kim são pessoas que estiveram sob interrogatório minucioso por parte da promotoria coreana para investigar as acusações contra Jeon.
No depoimento deles, havia muitos pontos discordantes em relação às provas documentais colhidas à época. Por exemplo, Jeon estava sendo acusado de fraude, no que toca ao ponto em que teria incluído o débito que a AMB tinha para com a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) de compras à prazo como aumento de capital da nova AMB, mas no depoimento do diretor Yu, ele diz que “eu fui contra, até o fim, usar os débitos à prazo como aumento de capital”. Após a Assembléia Geral dos acionistas realizado no Brasil em 2 de março de 1998, em que foi deliberado o aumento de capital em 400 milhões de dólares, entre os dias 3 e 5, o diretor Yu, solicitou ao vice-CEO Suh Sang-tae, em Seul, e ao Chefe da Equipe do Projeto-B, Cho Wang-jae, que assinassem rapidamente nos pontos deliberados na Assembléia. Pelo que foi deliberado na Assembléia, há uma parte que diz que o aumento do capital social seria feito por meio do “dinheiro em espécie ou por títulos emitidos pela AMB”. Mas essa parte esclarecia de forma muito clara o uso dos títulos de compra a prazo, motivo pelo qual foi recusada pela matriz, e então diretor Yu entra num acordo com o Lopez para alterar o texto para “dinheiro em espécie ou por meio de conversão de títulos”. O relatório que o diretor Yu elaborou não foi apresentado à corte pelo próprio, mas sim pelo vice-CEO Suh Sang-tae.

No mundo dos negócios, uma empresa como a Hyundai, que compra uma outra empresa, é chamado de “invasor” ou “facão”. Isso porque, após uma aquisição, a empresa que foi adquirida sofre um corte brutal de recursos humanos. No entanto, os dois Jung, que participaram do processo pelo qual foram criados títulos podres, que acabaram por custar uma soma astronômica de aumento de capital, ainda permaneceram na Hyundai-Kia, um como responsável pela Divisão de Projetos no Exterior, e o outro como membro da equipe jurídica da empresa, cuidando inclusive do processo judicial em curso na corte brasileira. Há notícias de que o ex-diretor Yu vive hoje nos EUA, administrando uma agência de correios privada no subúrbio de Los Angeles. Por outro lado, todos os funcionários, que haviam sido enviados à AMB e que acreditavam na honestidade de Jeon para com o Projeto-B, foram demitidos da empresa. Se Choi Il, que foi demitido juntamente com Suh Sang-tae, Soh Kwang-young, Shin Kyu-beom por terem defendido a posição de Jeon, disse: “Em janeiro de 99, quando Jeon foi indiciado, encontrei-me com o então CEO da Hyundai Lee Kye-an (hoje deputado) e o diretor sênior Jung Kwang-mo, da Equipe ao Projeto-B, na sede da Hyundai em Kye-dong em Seul, e ouvi dos dois o pedido de que ‘ajudasse para que a Hyundai se saísse numa posição vantajosa no julgamento’, mas me neguei, pois não poderia atender a um pedido desse sendo um cristão”. Isso significa que uma condenação judicial de Jeon era também um resultado desejável para a Hyundai. Por que será?

Hyundai Motors: vítima sem ter sido prejudicada?


Se era impossível receber os títulos a prazo que somava 180 milhões de dólares à época da prisão de Jeon, o prejudicado deveria ter sido, naturalmente, a Kia Motors Asia Motors Corporation (Coréia;AMC). Mas o fato é que o verdadeiro prejudicado desses títulos podres acabou sendo a KDB (Korean Development Bank), representante dos credores da Kia Motors/ Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), e nesse processo, a prisão de Jeon teve um papel decisivo e imprescindível.

Em 19 de outubro de 1998, a Comissão de Licitação da Kia Motors decidiu que a Hyundai seria a compradora da empresa, deixando de lado outros pretendentes como a Ford, Samsung e Daewoo. Na época, a questão da venda resumia-se a qual empresa requereria o menor valor de abatimento dos 9 trilhões de wons dos passivos da Kia. Dito de outra forma, a Kia Motors tinha uma dívida para com os credores, e a questão era saber qual pretendente pagaria o maior valor desse montante.
Ao final, a Kia decidiu pela Hyundai Motors, que havia requerido um abatimento de 7 trilhões e 300 bilhões de wons da dívida. O Banco KDB, que era representante dos credores, alegou que o valor requerido pela Hyundai era muito alto, mas aceitou a compra da Kia Motors pela Hyundai, com a condição de que haveria uma nova negociação em que aquele valor seria reduzido. As negociações entre a Hyundai Motors e a Kia Motors prosseguiram de forma bem acirradas, a ponto de terem sido chamadas na época pela mídia de “choque frontal”. Mas o resultado é que o abatimento que Hyundai teria não diminuía, mas aumentava. A dívida que a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) tinha com o Banco KDB de 219 bilhões e 400 milhões de wons foram perdoados. A maior parte dessa dívida era precisamente o valor de exportação a prazo que a AMB deveria pagar à Asia Motors Corporation (Coréia;AMC). E por isso, foram perdoados nessa negociação. Em outras palavras, a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) após enviar os carros à AMB, não deixou os títulos amarrados como recebíveis, mas usou-os como garantia para fazer empréstimo no banco. A Hyundai alegou que esses títulos eram podres, impossíveis de serem cobrados, requerendo então sua perdão. Park Seong-jin, do Banco KDB, que na época participou ativamente da negociação com a Hyundai Motors, estava sendo alvo de críticas severas, porque o Banco KDB estava “ávido por querer receber os seus haveres, pois a Kia Motors, uma empresa formada por ações de cidadãos coreanos, estava prestes a ser vendida para o capital estrangeiro, aproveitando a crise cambial coreana”. A situação era deveras emergencial, de modo que a perdão da dívida não pode ser analisada de forma minuciosa. Se a Hyundai exigia que tal e tal coisa deveria ser perdoada, era quase totalmente aceita”. Park salientou que “Sobre os recebíveis de exportação da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC), a Hyundai dizia que a AMB não tinha nada, e que o estelionatário coreano-brasileiro havia sido denunciado e que isso havia sido revertido em processo criminal, de modo que o Banco KDB aceitou a alegação da Hyundai”. Jeon foi preso pela primeira vez em 24 de novembro de 1998, e os credores da Asia Motors decidiram por perdoar a dívida dos seus títulos podres foi dois dias depois, no dia 26.





No entanto, quando se vê o relatório contábil da AMB elaborado pelo escritório de contabilidade coreana Anjin e a norte-americana Arthur Andersen por solicitação da Hyundai Motors em setembro de 1999, dá margem a um grande arrependimento sobre a decisão do Banco KBD. De acordo com esse relatório, que o periódico mensal Marl conseguiu, as pesquisas da BDO, um escritório de contabilidade brasileira, o patrimônio total da AMB até o dia 31 de dezembro de 1998 era de cerca de 237 bilhões em moeda coreana won. O patrimônio total da AMB conforme pesquisado diretamente pela Anjin era, até 30 de junho de 1999, 104 bilhões de wons. Essa redução deveu-se fortemente à variação cambial entre o real brasileiro e o won coreano ocorrido entre dezembro de 98 e junho de 99 (1 real = 995,96 wons para 654,16 wons). Em moeda brasileira, o patrimônio foi reduzido de 238 bilhões para 159 bilhões de reais.

Novamente de acordo com o relatório da Anjin, do capital social que de fato entrou para o Banco Central Brasileiro, que foi de 218 milhões de reais, 90% (tenha a Asia Motors feito vista grossa ou não) foi aumento de capital integralizado pelos sócios brasileiros usando os títulos a prazo que a Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) deveria receber da AMB. Por isso, a Hyundai Motors poderia se tornar a acionista majoritária da AMB possuindo 95% das cotas, somando a cota que possuía pela promessa de aumento de capital em 24 meses ao adquirir a Kia Motors, e poderia utilizar vários meios para cobrar os títulos usando esse direito.
Mas o relatório contábil da Anjin não foi apresentado como prova no julgamento de Jeon feito na Coréia. Na época, a defesa de Jeon requereu a apresentação desse material à Hyundai, mas esta não tinha obrigação de fazê-lo, pois era um material que ela havia encomendado a sua própria custa.
Com a prisão de Jeon, a Hyundai pode obter a perdão de mais de 200 bilhões de wons ao adquirir a Kia Motors. Mas nem por isso a Hyundai havia desistido do Projeto-B. O advogado Seo Jeong-woo, que defendeu Jeon e o vice-CEO da Hyundai Lee Kye-an, fizeram um acordo em junho de 2000, em que Jeon pagaria à Hyundai 10 milhões de dólares e a Hyundai concordaria com a sua soltura provisória (esse valor foi depositado numa conta do Banco Jeil do titular Kia Motors). Para prosseguir com o Projeto-B, a preocupação primeira de Hyundai agora era como se desvencilhar da multa dada pelo governo federal e da obrigação de integralizar o aumento de capital da AMB pela Kia Motors (ambos em torno de 200 milhões de dólares cada). Para isso, precisava da ajuda de Jeon, e mais, precisava de uma autorização para que ele deixasse o país, para que pudesse se encontrar com o Lopez no Brasil, bem como com as figuras de alto escalão do governo brasileiro. Mas a Hyundai, até o fim, não confiou em Jeon. Assim, Jeon resolveu fugir escondido num navio.


Da necessidade de demonizar Jeon


Jeon, logo após sua prisão, passa a gozar da fama de “estelionatário que roubou o país” por toda a imprensa coreana. Analisando as matérias publicadas na época, logo se vê “Asia Motors, fraudada em 180 milhões de dólares”, “Jeon Chong-jin, quem é ele”, “Ele quis adquirir até a Asia Motors”, enfim, dos títulos aos conteúdos, é uma enxurrada de matérias similares. O único repórter que levantou uma dúvida sobre a suspeita de Jeon, do Diário Econômico Hankuk, disse: “A promotoria, na época, decretou embargo na prisão de Jeon e divulgou um press release muito mais zeloso e elaborado do que em qualquer outro caso, e a mídia limitou-se em copiar o release”. Por que será que ninguém suspeitou desse gigantesco teatro de mentiras?



Chong Jin, Jeon


A época em que Jeon foi preso, fazia um ano que a Coréia recorrera ao FMI.O crescimento econômico registrava índices negativos, e um dos índices mais importantes para a vida do cidadão coreano, o custo com a educação privada, o qual o povo todo garantia que jamais iria diminuir, foi reduzido em nada menos de 24%. Sejam assalariados ou empresários autônomos, a renda de todos os cidadãos coreanos foi reduzida em média 20% ou mais, e o índice de crimes hediondos aumentou em 12%. Suicidavam-se, em média, 30 pessoas por dia, até ser cunhada a expressão “suicídio do FMI”. Em meio a isso, ocorreu uma campanha nacional de recolha de ouro com o slogan: “Vamos salvar o país da crise cambial”. Senhoras com mais de 70, 80 anos, que jamais haviam tirado a aliança do dedo, por décadas, doaram os anéis sem qualquer remorso. Passados 10 anos, até hoje a sociedade coreana inteira tem tremedeiras quando se ouve falar na palavra FMI.

Naquela situação, alguém deveria ser responsabilizado por fatos como “Não se conseguiu receber 180 milhões de dólares da exportação de carros coreanos”, “A empresa será obrigada a integralizar 200 milhões de dólares numa empresa no exterior chamada AMB, e foi até multada pelo governo brasileiro”, “É esse o caso que está relacionada à falência da Kia Motors, um dos casos que levou a economia coreana a recorrer ao FMI”, e Jeon foi muito facilmente demonizado. Caso não se acreditasse no seu estelionato, o país deveria arcar com 200 milhões de dólares numa época em que cada dólar era precioso.

Quando a diretoria da Asia Motors Corporation (Coréia;AMC) insistiu em realizar a Assembléia Geral de Acionistas em Seul, Lopez, o CEO da empresa, que era o responsável de fato e de direito pela administração, pela decisão de aumento de capital e a integralização da AMB, encontrava-se do outro lado do planeta. Somente Jeon, que foi a Seul por estar certo de sua própria inocência, foi preso ao sair da reunião. Ele poderia ter conexões pessoais muito sólidas e bases sociais consolidadas no Brasil, mas aos olhos coreanos, era um subinstruído, com primeiro grau incompleto, radicado num país subdesenvolvido. Com mais de 20 anos de Brasil, ainda permanecia estrangeiro, com nacionalidade coreana. Era presa fácil.

Passaram-se dez anos. A Hyundai, que alega ser vítima daquele episódio, e os envolvidos antigos e atuais da Hyundai no caso, mantêm o silêncio sob o pretexto de “não me lembro”, quando o assunto é este episódio e o julgamento em curso no Brasil. Por outro lado, Jeon, o assim chamado malfeitor, continua fazendo desabafos e apelos de injustiçado. Por que a história do filme Chuva de Sangue, em que o protagonista principal é denunciado por seus devedores e é condenado à morte em meio ao silêncio de todos os moradores de sua vila da ilha, se sobrepõe tão bem ao “estelionato de um coreano-brasileiro”?
Quando perguntei à Embaixada Coreana no Brasil sobre o andamento dos procedimentos de extradição de Jeon, o Cônsul Geral Kim respondeu: “acredito que jornalistas também são pessoas que trabalham em prol do país. Por favor, entenda que o caso de Jeon é sigiloso”. Será que há a necessidade de Jeon continuar sendo demonizado em prol do país?


Publicado em: 26/11/2007 - 15:25:54
Fonte: Fala (marl)
Repórter Seo Jeong-Hwan

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